Brasília. Foi a primeira cidade que me veio à mente quando cheguei em Washington. São várias as semelhanças. Ambos os lugares foram projetados para serem capitais. As ruas são largas, e é muito fácil se encontrar, pois a maioria delas não têm nome, apenas números. Mas a semelhança mais óbvia é a ausência. No domingo, não havia ninguém no centro político norte-americano. Assim como na capital brasileira, muitos devem trabalhar lá nos dias úteis e voltar para casa no final-de-semana. Alertaram-me, dizendo para tomar cuidado, porque essa característica tornara Washington um ambiente perigoso.
Cautelosa, andei pela cidade reparando na sua extrema limpeza e organização, qualidades que estiveram presentes em todas os lugares dos Estados Unidos que visitei até agora. Resolvi me desligar do grupo de amigos para visitar o Newseum, o “museu” da imprensa norte-americano. As aspas têm um motivo. Esqueça a idéia de museu que você criou durante a sua vida. Aqueles institutos chatos, só com antiguidades, e que interessa poucas pessoas além das que vivem de arte ou de história.
A interatividade é o ponto forte do Newseum. No primeiro andar, você pode brincar de jornalista. Há vários computadores com jogos diferentes, nos quais o principal objetivo é descobrir, em um determinado tempo, o lead da matéria. Para os leigos: o quê, quando, quem, onde, como e o porquê do situação ter ocorrido. Após as respostas dos personagens às perguntas possíveis de serem feitas pelas alternativas fornecidas pela brincadeira, seu “chefe” dava dicas. Entre elas, estava: “isso é um fato” ou “isso é uma opinião”. Se o jogador fizer as perguntas certas, chega à resposta do problema.
No terceiro andar, a busca pela interatividade com os visitantes se torna ainda mais explícita. Há um espaço, que possui apenas uma mesa, mas pra mim foi o mais instigante. No superfície do equipamento - touch screen - é possível escolher uma capa de jornal. Ao tocá-la, surge uma pergunta sobre ética, cujas respostas se resumem a sim ou não. A mesa, então, qualifica a resposta com correta ou errada eticamente. A intenção de colocar em discussão essa questão jornalística é louvável, mas a forma como foi feita é discutível.
É claro. A resposta certa para a brincadeira é a dos grandes meios de comunicação. Afinal, quem decide e define o que é ético na minha profissão? Nossas relações sociais? Nossos princípios? A empresa/meio para qual trabalhamos? Eu - pelo visto, nem o Newseum - ainda não tenho resposta para essas perguntas. Terei aula de ética apenas nesse período da faculdade. Rs.
Vi o Brasil em duas das exposições. Um memorial foi erguido para os jornalistas “mais importantes” que morreram exercendo a profissão. Entre um dos casos mais recentes - um dos mais famosos pelo estardalhaço que a mídia fez -,estava o ex-repórter da Globo Tim Lopes. Uma foto e uma legenda diziam que os assassinos eram gângsters cariocas. É simplificar demais as mortes…
Em um mapa mundial, os idealizadores do museu classificaram os países quanto à liberdade da imprensa. O Brasil estava no meio termo: a mídia não seria tão livre nem tão censurada (segundo eles, porque os jornalistas têm uma relação muito próxima com os políticos). Mas o engraçado é que a maioria dos países subdesenvolvidos foram qualificados da mesma forma. A imprensa dos desenvolvidos - pasmem! Inclusive dos EUA! - foi considerada livre. Gostaria de saber quem julga esses fatores…
Durand achou gente mais branca q ela!
ReplyDeleteNão sei quem inspirou o q, mas meu anti-americanismo me faz vir aqui para lembrar que aqui nas terras tupiniquins nós também temos um museu tão interativo qto essa nossa intercambista relatou.
ReplyDeleteO Museu da Língua Portuguesa, na estação da Luz, em SP, mostra uma infinidade de possibilidades tecnológicas e mirabolantes para que conheçamos nossa "última flor do lácio".
Outra coisa: discordo q museu seja um lugar chato. Não é pq é antigo q é inútil, certo? Ou só a tecnologia nos faz pensar? Se sim, perdemos nossa função cerebral!
Bjo!
Pra variar esqueci de assinar meu comentário...
ReplyDeleters...
Clara
A Clara deu umas porradinhas bem elegantes no texto. Mas eu vou fingir que não vi para não colocar lenha na fogueira. A questão é que, assim como ela, acho que os museus não são instituições chatas e válidas apenas para alguns. Talvez um pouco desse problema resida na forma como vemos hoje o museu, e não na forma pela qual ele se estruture. Ainda assim, é um bom debate.
ReplyDeletepo, o recente museu do futebol também tem altos joguinhos! Eu brinquei de ser o Pelé, tá?!
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